Coros e Orquestras da Iniciativa Pública em Buenos Aires e no Brasil e a Contribuição da Iniciativa Privada

Hoje conto um pouco sobre dois programas da Ciudad de Buenos Aires que são lindos e funcionam brilhantemente. Minhas duas filhas estão no programa, e lhes digo que vale muito a pena. Além dos programas que vou apresentar aqui hoje, temos muitos Conservatórios com formação profissional completa até os níveis superiores, tudo de forma pública e gratuita e com acesso facilitado.

Hoje apresento os Programas Coros para la Equidad e Orquestas Infantiles e Juveniles.

O programa “Coros para la Equidad” e “Orquestas Infantiles y Juveniles” de Buenos Aires é voltado para crianças e jovens de 6 a 18 anos, oferecendo uma oportunidade para a inclusão social através da música. Atualmente, a cidade de Buenos Aires conta com 16 orquestras, distribuídas em bairros como Villa Lugano, Villa Soldati, Mataderos, La Boca, e outros. Recentemente, o programa expandiu, formando mais duas novas orquestras, o que amplia ainda mais a participação dos jovens. Em termos de estrutura, os participantes recebem treinamento em três níveis: prática de orquestra, prática de fila e prática individual.

Esses programas são públicos e gratuitos, oferecendo oportunidades para a formação musical sem a necessidade de conhecimentos prévios, além de fornecerem instrumentos para os participantes.

O “Coros para la Equidad” inclui várias formações corais, como o Coro de Jovens “EnCantan Buenos Aires” e coros infantis em bairros como Caballito, Chacarita e Almagro. Esses grupos se destacam pela inclusão de jovens de diferentes contextos, oferecendo uma educação musical que melhora o desempenho escolar e desenvolve habilidades pessoais como a expressão corporal e vocal.

As “Orquestas Infantiles y Juveniles” incluem formações em diversos bairros, como a Orquestra Juvenil de Tango “Puente Sur”, a Orquestra Infantil de Retiro e a Orquestra Juvenil “Bajo Flores”. Cada uma dessas orquestras busca fortalecer os vínculos comunitários e proporcionar oportunidades de aprendizado musical de forma inclusiva e democrática.

Essas iniciativas não só promovem a educação musical, mas também têm impacto positivo no desenvolvimento cognitivo e emocional dos participantes, criando um espaço de pertencimento e crescimento pessoal.

Falando de Brasil existem programas semelhantes no Brasil que utilizam a música como ferramenta de inclusão social e educação, com foco em crianças e jovens de comunidades vulneráveis.

Projeto Guri (São Paulo): Um dos maiores programas socioculturais do Brasil, oferece cursos gratuitos de música para crianças e adolescentes de 6 a 18 anos, abrangendo instrumentos, canto coral e teoria musical. Com polos em todo o estado de São Paulo, o Projeto Guri visa promover a inclusão social e o desenvolvimento integral dos participantes através da educação musical.
Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia): Criado em 2007, o Neojiba tem como objetivo formar orquestras e corais com jovens de comunidades vulneráveis. Além do desenvolvimento musical, o projeto promove valores como disciplina, trabalho em equipe e respeito à diversidade, impactando milhares de jovens.
Orquestra Criança Cidadã (Pernambuco): Iniciado em 2006, o projeto é direcionado a crianças e adolescentes de áreas de risco social. Ele oferece não apenas formação musical, mas também suporte educacional, psicológico e social, utilizando a música como um caminho para inclusão e transformação social.
Villa-Lobos e as Crianças (Rio de Janeiro): Inspirado no legado de Heitor Villa-Lobos, o projeto oferece ensino musical para jovens em áreas carentes, promovendo o acesso à cultura e à educação musical de qualidade.

Esses programas, como os de Buenos Aires, buscam utilizar a música como uma ferramenta poderosa de transformação social, oferecendo a jovens oportunidades que vão além do aprendizado musical, proporcionando desenvolvimento pessoal e maior inclusão social.

E a iniciativa privada, onde entra? Do ponto de vista do maestro que busca trabalho, como fica?

O mercado de trabalho para maestros

A realidade do mercado de trabalho para maestros é desafiadora. Muitos dos maestros que se formam enfrentam um cenário em que as oportunidades para reger coros e orquestras de renome são escassas. As orquestras e coros de prestígio oferecem poucas vagas, e grande parte dos regentes não terá a chance de assumir tais posições. Nesse contexto, torna-se fundamental que maestros desenvolvam habilidades de gestão e empreendedorismo para criarem seus próprios grupos.

Autogestão: Aprender a montar e gerir seu próprio coro ou orquestra é uma competência essencial para o maestro que deseja atuar no mercado de forma independente. Isso inclui desde o planejamento de repertório, organização de ensaios e apresentações, até a captação de recursos e parcerias com a iniciativa privada. Você pode cobrar uma mensalidade acessível, conseguir espaços para os ensaios e além de ter sua renda, formar um grupo que vai crescendo junto com você.
Parcerias com empresas: Empresas privadas podem oferecer patrocínio e apoio a esses grupos, especialmente no âmbito da responsabilidade social corporativa. Ao investir em grupos musicais autogestionados, elas não apenas fomentam a cultura, mas também promovem a educação musical e a inclusão social.
Orquestras e coros de baixo custo: Projetos de baixo custo, sustentados por parcerias privadas, podem democratizar ainda mais o acesso à música e proporcionar a criação de novos espaços artísticos. Esses grupos, voltados para a música latino-americana, poderiam integrar diversas camadas sociais e culturais, formando públicos e fomentando o intercâmbio com músicos de toda a América Latina.

Iniciativa privada e agrupamentos de baixo custo

A iniciativa privada pode contribuir criando e apoiando projetos musicais de baixo custo, voltados para o público jovem e para aqueles que têm interesse em formar-se como músicos e maestros. Esses projetos podem se focar em:

Música latino-americana: Valorizar o repertório musical da América Latina, com foco na diversidade cultural e no fortalecimento da identidade regional. Além de promover o desenvolvimento técnico e artístico, esse foco ajudaria a conectar músicos brasileiros com seus colegas de toda a América Latina, facilitando intercâmbios culturais e linguísticos.
Aproximação com o espanhol: O ensino de espanhol dentro do contexto da música latino-americana oferece uma oportunidade para que jovens músicos possam se comunicar e estabelecer diálogos artísticos com coros e orquestras de outros países latino-americanos, abrindo portas para colaborações internacionais.
Grupos autogestionados: A iniciativa privada pode apoiar a formação de coros e orquestras de forma independente, oferecendo bolsas, espaços de ensaio e ferramentas administrativas para maestros e músicos que desejam se autogerir. Isso cria oportunidades de liderança e empreendedorismo no campo musical, permitindo que músicos assumam o controle de suas próprias carreiras e agrupamentos.

As entidades onde podemos buscar apoio

Na Argentina, existem duas organizações importantes no cenário coral:

ADICORA (Asociación de Directores de Coro de la República Argentina): Uma associação que congrega maestros e diretores de coros de todo o país, promovendo o intercâmbio entre regentes e o desenvolvimento de atividades corais. A ADICORA organiza eventos, festivais, cursos de capacitação e encontros para fortalecer a prática coral na Argentina.
Red Coral Argentina: Uma rede nacional que busca promover o movimento coral em todo o território argentino. Através de suas ações, a Red Coral Argentina incentiva a participação de coros em festivais, eventos e colaborações, fomentando o desenvolvimento cultural e musical das comunidades locais.

No Brasil, existe a ABRACO (Associação Brasileira de Regentes de Coros), que desempenha um papel similar ao das entidades argentinas. A ABRACO promove a prática coral no Brasil, oferecendo suporte para regentes e coros com iniciativas como encontros, workshops e projetos de intercâmbio cultural.

Essas associações desempenham um papel fundamental na integração de maestros e coros, criando redes de apoio e fomentando a prática musical coletiva nos dois países.

Mas noto uma grande diferença. Tanto ADICORA como RED CORAL nos mandam a diário espaços disponíveis pela cidade para realização de concertos, existe o BUENOS AIRES CANTA que é ume vento anual onde temos 7 dias de concertos de coros espalhados em museus, igrejas, palácios e lugares nobres, a atividade dessas entidades é intensa e palpável, ou seja, quando montamos uma agrupação aqui temos onde realizar concertos de forma gratuita e acessar espaços e lugares de uma forma muito simples. Em SP era muito mais difícil para encontrar lugares com custo zero para a realização de concertos, o acesso a coisa pública é travado, e os custos eram bem elevados para organizar um encontro coral. Fizemos uma série de encontros corais em SP quando tínhamos o conservatório presencial, mas bancado 100% por nós e a título de investimento na marca, e sinceramente, não deu o retorno esperado.

Conclusão

Na realidade de um maestro, será necessário pensar em gestionar seu próprio grupo, porque o acesso as grandes orquestras será para poucos.

Outra vez voltamos no ponto clave de conhecer o mercado e desenvolver habilidades extras para alcançar o sucesso.

A contribuição da iniciativa privada é vital para complementar os esforços públicos na criação e manutenção de coros e orquestras. Com a criação de grupos autogestionados e o apoio à música latino-americana e à formação bilíngue, pode-se não só ampliar o acesso à música, mas também criar novas oportunidades para maestros que, diante de um mercado competitivo, precisam aprender a gerir suas próprias iniciativas musicais. Esses programas privados podem preencher lacunas e abrir novas portas no cenário artístico brasileiro e internacional.

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